Religião e violência
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*Marcelo da Luz
Uma das mais características atribuições dadas à religião é o seu determinante papel na pacificação do
coração humano. Na origem das maiores tradições religiosas está a pregação de valores sublimes – amor,
perdão, paz e fraternidade universal, entre outros. No entanto, essas mesmas tradições são, paradoxalmente,
protagonistas de grande parte dos conflitos bélicos da sangrenta História da humanidade. Um sério
problema se estabelece: a religião, ainda a maior escola assistencial do planeta, é, ao mesmo tempo, fator
desencadeante de violência e conflito.
Este trabalho procura investigar se a religião causa a violência apenas incidentalmente ou se há algo
em sua conjuntura estrutural que a torna intrinsecamente violenta. Dentro da metodologia aplicada pelo
autor, a saber, a pesquisa bibliográfica, quatro passos serão tomados:
a. Delimitação da noção de violência, subsequente tipologia e constatação fatual da sua ocorrência na
práxis dos movimentos religiosos.b. Consideração das variáveis presentes em um conflito religioso.
c. Exame dos livros-fonte das religiões quanto ao seu potencial de geração da violência.
d. Elaboração de hipótese acerca da nascente da violência religiosa.
QUAL VIOLÊNCIA?
A palavra violência deriva do vocábulo latino violentia, ae, o qual designa, em sentido amplo, qualquer
comportamento ou ação derivada de vis (força, vigor): impetuosidade do vento; ardor do sol; ferocidade;
rigor; sanha; força aplicada contra coisas, ambientes e seres, sejam estes humanos ou subumanos, indivíduos
ou grupos. Mais especificamente, a violência se distingue da simples aplicação da força. Enquanto
a força designa genericamente a energia ou intensidade aplicada em determinado movimento, a violência
é o elemento qualificador negativo da força: ação corrompida ou contaminada pelas emoções negativas –
desprezo, rancor, ressentimento, raiva, ira, cólera, fúria, ódio – e intencionalmente voltada à agressão, intimidação,
coerção, eliminação ou destruição de outrem. Portanto, a construção de uma definição preliminar de
violência inclui ao menos estes dois elementos: emoção e intenção. Quanto à sua aplicação, a violência pode
ser realizada tanto impulsivamente quanto de modo deliberado e calculado.
Quando nos referimos à realidade da violência, automaticamente pensamos em sua manifestação física.
Contudo, a tipologia da violência é complexa, e mesmo a agressão corporal possui ascendentes níveis de
intensidade e consequências (desde um leve ataque até a destruição completa do corpo ou objeto agredido).
Possíveis tipos de violência incluem:Castigos corporais autoinfligidos (auto-flagelo) |
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a. Autoviolência: desenvolvimento de comportamentos ou expressões agressivas contra si mesmo. A intenção do indivíduo ao se punir, provocando autossofrimento, pode ser motivada pela necessidade de expiar culpa ou preencher vazios existenciais. Formas comuns de autoviolência incluem vícios, entre estes o alcoolismo; o tabagismo; o consumo de drogas; o workaholism; a compulsão alimentar; a fixação pelos exercícios físicos; os comportamentos sexuais compulsivos. O suicídio ou sua tentativa é o ápice do ódio a si mesmo, pois implica a consumação da ideia da autodestruição do indivíduo. Muitas práticas autopunitivas são comuns entre as tradições religiosas: o jejum; os castigos corporais autoinfligidos; as peregrinações extenuantes; os votos e sacrifícios cumpridos anualmente em santuários; o cilício; as vestes inibidoras da sexualidade; o celibato; o voto de pobreza; a humilhação diante dos superiores; a ingestão de substâncias alucinógenas, para citar algumas. O suicídio religioso recebe o nome de martírio.
a. Autoviolência: desenvolvimento de comportamentos ou expressões agressivas contra si mesmo. A intenção do indivíduo ao se punir, provocando autossofrimento, pode ser motivada pela necessidade de expiar culpa ou preencher vazios existenciais. Formas comuns de autoviolência incluem vícios, entre estes o alcoolismo; o tabagismo; o consumo de drogas; o workaholism; a compulsão alimentar; a fixação pelos exercícios físicos; os comportamentos sexuais compulsivos. O suicídio ou sua tentativa é o ápice do ódio a si mesmo, pois implica a consumação da ideia da autodestruição do indivíduo. Muitas práticas autopunitivas são comuns entre as tradições religiosas: o jejum; os castigos corporais autoinfligidos; as peregrinações extenuantes; os votos e sacrifícios cumpridos anualmente em santuários; o cilício; as vestes inibidoras da sexualidade; o celibato; o voto de pobreza; a humilhação diante dos superiores; a ingestão de substâncias alucinógenas, para citar algumas. O suicídio religioso recebe o nome de martírio.
O movimento Opus Dei e a lavagem cerebral |
b. Violência psicológica: atitudes agressivas não são necessariamente cruentas. É possível minar
a autoestima e desfigurar a organização do universo mental de alguém por meio do recurso à rejeição,
depreciação, preconceito, discriminação, ameaça, desrespeito, humilhação, assédio moral, silenciosa hostilidade,
entre outras atitudes. Graves sequelas emocionais podem acompanhar, durante muito tempo, os indivíduos
ou grupos afetados. Programas educacionais promovidos pelas instituições religiosas contêm, em
geral, processos de desagregação psicológica, baseando sua metodologia na adequação do indivíduo a modelos
pré-estabelecidos (santos, místicos, autoridades eclesiásticas). Essas instituições propõem a substituição
do ego pessoal pelo ego ideal do modelo escolhido, deixando pouco ou nenhum espaço para a originalidade
pessoal. Uma vez admitido o processo, o membro do grupo religioso perde sua autonomia própria
e passa a viver segundo padrões sociológicos anacrônicos, quais sejam: obediência cega aos seus superiores,
vestes especiais (há religiosos vestidos segundo os costumes da Idade Média), adoção do vocabulário
e ideário da instituição como única chave válida de compreensão do mundo, entre outros. Exemplos vívidos
são os seminários, conventos e mosteiros católicos. O mosteiro católico medieval é a matriz original de
muitas instituições totais surgidas no Ocidente – hipótese de Castel (1978), Foucault (1982), Goffman (1987)
e Benelli (2003). Ainda dentro da Igreja Católica, o movimento Opus Dei tem sido responsável até mesmo
pela regressão de algumas pessoas ao estado de demência, tamanho o grau de lavagem cerebral ao qual
foram submetidas (FERREIRA, LAUAND e SILVA, 2005).
Salman Rushdie autor do livro Versos Satânicos que condenava o Islão por perseguição contra várias religiões cristãs e hindus. |
c. Violência verbal: consiste no uso da palavra escrita ou falada para humilhar, insultar, ofender,
diminuir, ameaçar, coagir, enganar, manipular ou agredir alguém. Incluem-se aqui, entre tantos exemplos, os
anátemas proferidos ao longo dos séculos pelos Papas contra os hereges e outros inimigos da Igreja Católica;
a ordem de matar o escritor Salman Rushdie (1947- ), dada pelo Aiatolá Khomeini (1900-1989) em
1989; as veementes ameaças de condenação ao inferno, costumeira estratégia dos pastores evangélicos no
Brasil.
Von Helder foi transferido e viveu uma espécie de exílio nos Estados Unidos. Atualmente rompido com a igreja de Edir Macedo, voltou para o Brasil onde lidera a Igreja da Restauração |
d. Violência cultural: a imposição substitutiva de valores, crenças, símbolos, ideias, conceitos e costumes
a indivíduos ou grupos de indivíduos. A lavagem cerebral, a imposição dos catecismos e as missões
religiosas incluem-se nesta categoria. No dia 12 de outubro de 1995, o bispo da Igreja Universal do Reino de
Deus, Sérgio Von Helde, em cadeia nacional de TV, xingou e chutou uma imagem de Nossa Senhora
Aparecida – um dos símbolos da religiosidade católica no Brasil.
Jornalista britânico David Haines, mais uma vítima de decapitação por membros do grupo fundamentalista Estado Islâmico que controla a parte do território da Síria e do Iraque |
f. Violência social: manifesta-se nos conflitos oriundos da integração entre diversos organismos
e classes componentes das sociedades humanas. Figuram, entre outros exemplos, a criminalidade; as agudas
desigualdades entre classes sociais; a fome; a miséria; o precário sistema público de saúde; a corrupção
generalizada; a poluição sonora; os conflitos no trânsito; a mortalidade infantil; a ausência de oportunidades
educativas; a prostituição forçada; o desemprego; os baixos salários; os impostos abusivos; o desvio de
verbas públicas; a concentração de renda. Ao longo da História, muitas religiões tornaram-se opulentas,
impondo pesadas taxas aos fiéis, enquanto seus líderes acumulavam riqueza e exibiam ostentação. Exemplos
clássicos são os Fariseus e Saduceus, grupos judaicos predominantes no tempo de Jesus; muitos Papas
católicos, especialmente durante a Baixa Idade Média e toda a Idade Moderna; o místico hindu Bhagwan
Shree Rajneesh (1931-1990), mais conhecido como “Osho”. Exemplos hodiernos envolvem muitos líderes
das igrejas neopentecostais no Terceiro Mundo, envolvidos em casos de sonegação e estelionato.
Inquisição Católica (Baixa Idade Média) |
g. Violência física: compreende uma vasta gama de manifestações agressivas contra o corpo e contra
a vida de indivíduos ou grupos sociais. O emprego da violência física pode realizar-se no embate corpo
a corpo ou no emprego de instrumentos que causam a morte ou infligem dor. Desde a invenção do cajado
até as atuais armas de destruição de massa, a sofisticação da capacidade humana para a aniquilação de sua
própria espécie é um dado permanente. Dentre as ações autofágicas reproduzidas ordinariamente pela raça
humana, estão incluídas, entre outras, o espancamento; o trabalho forçado; a aplicação da tortura; a mutilação;
o homicídio; o genocídio; a limpeza étnica; a guerra. Este tipo de violência causado pelas religiões, ou
a elas relacionada, é abundante na História. Exemplos contundentes são os sacrifícios humanos realizados
pelas religiões pagãs; as Cruzadas (1095-1278); a Inquisição Católica (Baixa Idade Média e Idade Moderna);
as guerras entre protestantes e católicos na Europa nos Séculos XVI e XVII; a Rebelião de Taiping na
China (1850-1871), com seus vinte milhões de vítimas; a profunda influência do Zen-Budismo na cultura de
guerra japonesa nos Séculos XIX e XX; os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 em New York
e Washington, D.C., assumidos por fundamentalistas islâmicos.
h. Violência sexual: constitui uma modalidade de abuso físico ou mesmo psicológico, no qual o corpo de uma pessoa é molestado ou violado sexualmente contra sua própria vontade. Contam-se, entre suas possíveis expressões, o assédio libidinoso, o estupro e os atos de pedofilia. Um dos exemplos mais pungentes é a avalanche de casos de pedofilia revelados ao público a partir de 2002, envolvendo sacerdotes e bispos católicos nos Estados Unidos e vários outros países.
Templo de Salomão da IURD no bairro de Brás - São Paulo |
i. Violência ambiental: integra ampla série de agressões contra o ambiente. São exemplos, entre
outros, a poluição dos mares, rios e fontes; o desperdício de água; o desmatamento; a poluição sonora;
a emissão de gás carbônico na atmosfera; a caça ou pesca esportiva e predatória; o extermínio de espécies
vivas; a extração abusiva de recursos naturais. Grandes quantidades de metais preciosos foram extraídas
na América Latina, África e Extremo Oriente para a fabricação de estátuas, templos e objetos sagrados.
O extermínio de algumas espécies animais também foi, em diversas regiões, resultado do uso das mesmas
em rituais religiosos primitivos. Exemplo comum de violência ambiental é o barulho imposto, no Brasil, por
muitos templos e igrejas aos seus vizinhos, compelidos a ouvir sermões e cânticos despejados de alto-
-falantes intrusivos.
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j. Violência simbólica: recurso à violência de modo sublimado em atividades canalizadoras da
agressividade humana para formas controladas e socialmente “aceitáveis”, reproduzidas em settings artificiais. Dentre as modalidades mais difundidas deste tipo de violência estão os esportes, o cinema e a teledramaturgia.
Este tipo de violência aparece em muitas religiões, qual sublimação da primitiva necessidade
dos sacrifícios humanos para aplacar a ira dos deuses. No Catolicismo, o sacramento da Eucaristia, encenação
diariamente repetida do sacrifício de Jesus Cristo, ocupa lugar central na hierarquia de ritos e mistérios.
k. Violência contra minorias: combinação de várias modalidades de opressão dirigidas a grupos ou
subgrupos específicos, contra os quais se tem preconceito. Exemplos dignos de nota são as manifestações
de agressão física e psicológica às mulheres e crianças em todas as nações do mundo. Estes dois grupos são
especialmente vítimas de violência sexual. Mais uma vez, incluem-se aqui os numerosos casos de pedofilia
perpetrados por sacerdotes católicos e os constantes abusos aos quais mulheres são submetidas em vários
países de tradição islâmica.
Na presente análise da vinculação entre religião e violência, o significado desta última compreende
todos os tipos de violência elencados acima. Abrange, em especial – mas não exclusivamente – a erupção
da violência organizada, isto é, as atrocidades apoiadas ou causadas por grupos e tradições religiosas, cujos
interesses políticos e doutrinários levaram ao extremo a perseguição sistemática aos seus párias, a prática
da tortura, a disseminação da “guerra santa” e a consumação do extermínio de inteiras populações.
Texto colhido do livro Considerações sobre a Correlação entre Religião e Violência de Marcelo da Luz - Graduado em Filosofia e Teologia; Pós-Graduado em Teologia. Voluntário da Associação Internacional de Parapedagogia e Reeducação Consciencial (Reaprendentia).
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Religião é uma fonte de cicatrizes históricas que, se esquecidas, fariam muito bem à Humanidade. A racha entre Islâmicos, Cristãos e Judeus é fruto da religião. A racha entre conservadores e liberais é fruto da religião. Gostaria de dizer que religião é algo bom, mas infelizmente não posso.
ResponderExcluirAnônimo
ExcluirAo invés de religião deveria haver o estudo do autoconhecimento.
O que faz da religião uma má escolha é o fanatismo e todo fanatismo pode gerar violência.
Um abraço
Esqueceram de falar do terrorismo psicológico e agoniante que o espiritismo brasileiro incute nas pessoas. De todas as vertentes, da Apometria(Wagner Borges, retardado que só fala de Jesus), Espiritualistas, Sensitivos(Márcia Fernandes), todos eles condenam quem for ateu, quem gosta de curtir a vida, sexo por prazer, masturbação, happy hour com os amigos(para esses espíritas ridículos, nosso "único" amigo é "Jesus nosso mestre"(vão dar a bunda pra ele porra). São pessoas que nasceram na época errada. Deveriam ter nascido na época da Igreja Católica Medieval. O Brasil não vai pra frente por causa desse tipo de gente, que impede as pessoas de questionarem os dogmas cristãos, o preconceito da sociedade com as minorias, desigualdade social. Os Espíritas e Espiritualistas condenam as pessoas de se rebelarem pois "Deus não gosta disso, é pecado" ou "Devemos sofrer em silêncio! O Sofrimento é uma "benção divina"(??????). Chico Xavier, o doente mental que virou "Santo" nunca fez nada para melhorar o Brasil. Pelo contrário, condenou o Brasil a ser eternamente o país das vaquinhas de presépio que sempre abaixam a cabeça para tudo e aceitam o sofrimento sem questionar.
ResponderExcluirOs Espíritas conseguem ser ainda piores do que os crentes. Tudo que acontece de rum no mundo é "um resgate espiritual de vidas passadas, é karma". E esses retardados mesmos, costumam sempre dizer que "ah, eu fui uma pessoa muito má na vida passada". Não são uns imbecis esses cretinos?? E o pior, induzem seus tolos seguidores a aceitarem os sofrimentos e perdas da vida como uma "benção divina"(????). E a doutrina espírita é uma doutrina extremamente preconceituosa e racista. Para eles, os negros são pessoas "inferiores". Como um lixo de doutrina dessas foi conseguir espaço no Brasil?????
ResponderExcluirOs Espíritas aqui do Brasil são ainda piores, muito piores. São pessoas tão insensíveis ao sofrimento alheio que quando um adepto da doutrina se revolta contra os sofrimentos da vida, eles acusam a pessoa de ser "vaidosa"(????) por "não aceitar sua punição(???) divina e não agradecer a Deus por isso"(????). Depois dizem que o Bispo Macedo é um "monstro". Monstro era Chico Xavier e idiotices que ganharam admiração dos mais idiotas. O velho babão era um retardado, um perturbado. Ele podia psicografar? Sim,mas muita coisa ele inventava. Até o sobrinho dele que morreu misteriosamente, foi em uma redação de jornal nos anos 40 ou 50, e desmascarou o tio. Disse que tudo que o bobão psicografava era fruto da imaginação dele.
ResponderExcluirO Fanatismo dos Espíritas são ainda piores do que os do Isã. O preconceito e o racismo que eles incutem na sociedade são disfarçados. Eles condenam os homossexuais por estes estarem "descumprindo as leis divinas e pagarão por sérias expiações(castigos divinos. Deus é "bonzinho" né) na próxima reencarnação. Chico Xavier foi um dos CULPADOS por muitos dos preconceitos que ainda existem na nossa atrasada e hipócrita sociedade brasileira.
ResponderExcluirA Doutrina Espírita consegue ser ainda mais fanática e doentia do que o catolicismo e o pentecostalismo. Eles condenam todas as minorias da sociedade. Eles nutrem preconceito pelos homossexuais. Eles são arrogantes e chamam todos aqueles que se rebelam contra o sofrimento de "vaidosos e egoístas", por se negarem a sofrer(???) as "punições divinas do karma". Não dá vontade de matar essa gente? Não dá vontade de queimá-los vivos na fogueira?? Eu acho que todos, eu disse TODOS os Blogs espíritas, espiritualistas desses médiuns racistas e preconceituosos deveriam ser censurados ou simplesmente saírem do ar. E muitos deles deveriam morrer fuzilados ou apodrecerem na cadeia, por estarem prestando um desserviço a sociedade, lhes incutindo medos, dogmas e preconceitos. ESPÍRITAS IDIOTAS! BANDO DE ASNOS.
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